Eu sou daquelas que
até tinha justificação para dizer que é vitima de violência doméstica.
Senão vejamos os inegáveis factos:
Eu sou uma gralha insuportável com a mania que é esperta
porque é praticamente doutora e tem a mania que sabe.
Ele é benfiquista e este ano a vida não lhe está a correr
bem e, para agravar, é funcionário público. Ou seja, como é sabido, passa boa
parte do dia a folhear o Correio da Manhã e a coleccionar ideias.
Mas venho confessar que não, não sou uma vítima. Ou melhor,
sou, mas uma auto-vítima. Ontem, durante um jantar de amigos, toco no braço e
noto que tenho dói-dói. Não liguei muito mas fiquei a pensar o que seria. Hoje
estou a tomar duche e eis-ze-li-a, uma espectacular nódoa negra em tudo derivada
do facto de na passada quinta-feira ter sentido
estranha necessidade de passar de uma para outra divisão da casa e, em
vez de, vá, atravessar a ombreira, enfiei directamente na ombreira. Ora, eu sou garota baixota mas não sou garota
piquena. Não tenho ilusões quanto à minha largura. Contudo, ele há dias em que
o ouvido interno vai passar férias e é com cada sarrafada que até dou meio
passito para trás.
Venho, portanto, declarar que não obstante o senhor que vive
cá em casa ser um diletante pulha de merda privilegiado de um cabrão não faz
mais do que coçar o tomatal e a seguir cheirar a mão funcionário do Estado, toda e
qualquer nódoa negra que possa apresentar é fruto da minha mais absoluta
responsabilidade.
Ainda estou para compreender se se trata de um traço de
génio distraído ou se é melhor ir pedir análises.
Karvela
Comentários