A SusanaFelixização da sociedade

Já me alonguei neste blog sobre a fraqueza do carisma de figuras como João Pedro Pais e Mafalda Veiga, comparando-os a pães de Mafra. Hoje ouvi uma coisa na rádio e lembrei-me que ando para aqui a guardar fel há que tempos dirigido à Susana Félix. É gira que se farta e parece fofinha, adorava sair com ela e conversar sobre unicórnios, arco-íris e sonhos de abóbora enquanto bebíamos delicadamente um cocktail cor-de-pink com sabor a pastilha elástica. 

Mas é outra que:
a) tem uma voz banal;
b) tem o carisma de um semáforo no amarelo. 

Não é a gaja porreira do semáforo verde nem a biatch do semáforo vermelho. É a miúda assim-assim, é meh, é subpar. Naquela gelataria do Norte onde vendiam gelado com sabor a bacalhau com natas a Susana Félix é a baunilha. A Susana Félix é tão renhó que até eu consigo lhe imitar a voz. Da próxima vez peçam-me para cantar coisas porcas com a voz da Susana Félix e eu garanto-vos felicidade durante os dois minutos em que consigo fazê-lo sem começar a espumar de nervos. Hoje tentámos com o Closer dos Nine Inch Nails e o Doces penetrações, dos Enapá 2000. Não vale a pena... "Querida, lubrifica-me a ogiva" soa a anúncio ao Nenuco Fofuras Boas Amor Marmelada Doçuras. 

Dito isto, tenho duas queixas.

1. Quem é que estava a cantar na rádio Marginal (outra que é a renhó das rádios - não é a Radar mas também não é a Rádio Voz de Alenquer) O corpo é que paga do Variações, com a voz da Susana Félix? Quem é que agarrou no relato acutilante de um sábio acerca de excessos e má vida e o transformou em algodão doce? Se não era a Susana Félix era outra pessoa qualquer. 

Este cenário ainda me assusta mais porque, e passo à segunda queixa:

2. Agora parece que há aí uma camioneta de gente a cantar com voz de menina coquete com o hímen intacto. "Ai A máquina dos Amor Electro é tão espectacular". Não, não é. É uma canção da Susana Félix (cantem o refrão d'Um lugar encantado em cima do refrão d'A máquina, cantem...!), na voz da Susana Félix cantada por uma rapariga com o cabelo à tigela. 

A SusanaFelixização da sociedade preocupa-me. É o equivalente a ver passar carros cinzentos, não há quem compre um Yaris vermelho. É um Toyota, há uma tonelada deles, mas pelo menos é encarnado. Ainda há vozes boas. Há. Mas insistem em passar a Susana Félix e suas clones, a Mafalda Veiga e a sua falta de lábios, o João Pedro Pais e as suas sofisticadas rimas, Pedro Abrunhosa e o seu poder de observação ("passou um avião e agora estou aqui" "um cinzeiro atirado pela saída de emergência" "o quadro eléctrico da vizinha do terceiro esquerdo"). 

Alguma música portuguesa carrega-me de tédio.

Karvela (portanto, em encontrando-me na rua, é pedir-me para vos cantar o refrão d'A máquina com a minha letra alternativa, que passa em muito (ou na totalidade) pela frase "eu tenho que cagar")

Comentários

Sandra Cunha disse…
Karvela's back! Yes!
Não conhecia esta cena, nada disto. Esta coisa da Máquina até é uma malha bem esgalhada, mas - e ainda hoje tive uma conversa sobre isto num automóvel em andamento - sofre do mesmo mal de muitas bandas portuguesas: a música é porreira, chega o vocalista e estraga tudo.

É aquela voz típica, a fugir para o pseudo-fado festival da eurovisão.

Meh.
Anaoj disse…
A voz da Marisa Pinto (Amor Electro) é ligeiramente melhor que a da Susana Félix. Não? (Embora realmente o cabelo à tigela lhe tenha afectado um bocadinho as cordas vocais - ela nos Donna Maria, cantava um bocadinho melhor.)

Mas admito que, embora goste bastante de algumas covers deles, a "Estrela da Tarde" foi completamente chacinada. ;_;
rititas disse…
nem imaginas o quanto me fazes feliz enquanto leio os teus posts!!
Pecadora disse…
Eu gosto muito d' A Máquina dos Amor Electro, mas gosto mais quando a Karvela entra em modo bulldozer: por onde passa, arrasa!
Viva o blog, que o Fronha não é a mesma coisa!!
Anónimo disse…
Karvela armada em Pedro Moncheri Mendes

Arnaldo