Imaginem um balde de merda. Mas mesmo merda. Como em fezes. Não é um balde de merda metafórico. É um balde de plástico cheio de senhores castanhos.
Imaginem-no fétido, cheio de cocós. Cocós moles. Cocós duros. Cocós assim assim e outros de cor duvidosa que nos leva a pensar que se calhar ir ao médico seria boa ideia.
Imaginem que é um balde daqueles normais, que se compram em qualquer superfície comercial. Portanto leva o seu tempo a encher.
E por isso a merda que lá está dentro é de há muito tempo. Os tarolos do fundo já viram passar algumas luas.
Agora imaginem que estão a passear-se calmamente na rua. Até acham que a vida vos corre bem. Bolas, corre-vos mesmo bem. Aliás, corre-vos melhor do que jamais correu. Há coisas a acontecer, rodas a mexer, hamsters a correr, movimento perpétuo.
Agora imaginem que o senhor de barba à passa-piolho que andou a coleccionar cocó durante algum tempo - e relembro-vos que há no balde cocó de couves, cocó de feijoada, cocó daquele estupor daquela amêijoa vietnamita - decide atirar o conteúdo do balde à rua no exacto momento em que uma pessoa vai a passar. E entra-vos para a boca, salpica a parte de dentro dos dentes, espicha-se-vos para os olhos, deixam de ouvir porque um pedaço de matéria fecal se alojou no tímpano esquerdo. O cabelo e as sobrancelhas também não escaparam à sanha diarreica. E, olhando para dentro da t-shirt, escorre perigosamente um maroto assim mais para o líquido mesmo na direcção dos genitais. Os ténis brancos? Uma miragem de castanho escuro. Roupa? Mais vale estar nu. Duche? É aproveitar o metano e tacar o fogo à epiderme.
Pois, meus caros, eu andei a levar com baldes de merda destes durante todo o mês de Maio, culminando em Junho num magnífico espectáculo de luz e som, no qual fui mergulhada num jerrycan de merda que andou a ser coleccionada por uma equipa de futebol regional que se alimenta de lentilhas e ovos.
Se algo de positivo saiu da experiência é que agora todo o fel de Karvela é plenamente justificado. Durante tempo indefinido e com a violência que me apetecer.
Karvela
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