Se há uma pergunta que me irrita é "Quando é que tens filhos?"; mas apontarem as minhas futuras incapacidades parentais antes de existir sequer o vislumbre de um infante é coisa para me deixar instantaneamente em modo Karvela.
No outro dia mostrava orgulhosamente a uma pessoa que nem sequer é família (porque se fosse levava logo uma chapada com as costas da mão) que tinha conseguido arrumar a minha parte das estantes do escritório, sendo que ter um escritório é o único luxo que estes nossos setenta metros quadrados permitem. Em vez de receber o esperado "Olé! Esta é talvez a melhor arrumação que eu já vi em toda a minha vida!", foi-me oferecido um "Quero ver onde é que pões isto tudo um dia que tenhas um filho." Apanhada de surpresa, respondi "Olha, os livros é que não podem sair daí. Ele que durma numa gaveta, que eu não tenho espaço!"
O que raio pensou esta pessoa para me dizer uma coisa destas? Eu tenho pouquíssimo espaço para roupa, por isso é impossível tirar de lá os armários. Os livros do doutoramento ocupam uma série de estantes, por isso também não me agrada a ideia de os recolocar noutro sítio da casa. O futuro pai da criança inexistente precisa de jogar Civilization por isso o PC também não pode sair e a secretária também não dá para tirar, porque senão onde é que ele apoia os cotovelos? Pronto, no escritório não dá. Sobra o nosso quarto, mas eu gosto de dormir e diz que crianças e dormir são palavras incompatíveis. Hmmm... na sala não me dá jeito porque é o meu local de trabalho. E agora que montámos o cadeirão da IKEA não vou certamente lá pôr um berço, coisa inestética. Sobra o meio da cozinha mas isso é o quarto do Óscar, e o cão já cá estava. Na marquise às vezes chove e eu não vou estar a comprar um berço para ficar todo empenado no primeiro mês!
Se calhar, em emprenhando sem querer, mais vale dar consentimento para adopção e fazer alguém feliz com esta criança, já que segundo algumas vozes eu não vou poder, e enumero:
- Manter o escritório (mas quem é que acha que eu vou privilegiar o escritório em relação ao quarto de uma criança? QUEM?)
- Acabar o doutoramento (podem dizer-me que vai ser difícil, estou ciente, mas já ouvi rumores que é impossível... uuuuuh... como é que os outros fazem...?)
- Ter o cão em cima dos sofás (e ele é tão mau...).
- Andar sempre nas compras (porque com o salário de bolseira eu estou constantemente a comprar jóias).
E, a minha favorita,
- "Fazer a vida que fazes agora"
Este da vida que faço agora tenho a certeza que posso continuar, porque os futuros avós já se ofereceram para ficar com uma putativa criança quando eu bem necessitar. Por isso acho que posso largar o puto mesmo no patamar da escada dentro de um cesto daqueles da fruta, tocar à campainha, acelerar violentamente o carro e ir à vida desregrada, alcoólica e praticamente sidosa que mantenho agora.
Karvela (Karvela irritada = post dos antigos)
Comentários
Tive a C há um mês e meio e durmo as noites todas q a alminha adormece às 22h ou 24h e só acorda pelas 7h ou mais, como hoje... O espaço partilha-se! E desde que ela nasceu raros foram os dias em q n saímos de casa, já tivemos um jantar de despedida de um amigo q vai trab p outro local e ela também foi ao jantar, vamos almoçar c o Pai dela porque os dias estão bons e a Fábrica da pólvora tem almoços na esplanada e a criança apanha sol... Deixa lá... Qd eu era pequena toda a gente se escandalizava porque eu dizia que queria produção independente... Qd estava casada toda a gente perguntava porque é que eu não queria filhos... E agora que vivo em pecado e tenho a C toda a gente acha o máximo e toda a gente tem muitas opiniões e conselhos para dar... (incluindo a coisa do "n podes fazer a mesma vida"... o certo é que tenho feito... sem ir ao cinema q n dá jeito amamentar lá...)
Bjs
T
Tudo disparates, não ligues!
Tirando a parte de dormir, no nosso caso, que o raio do miúdo continua a acordar de noite... o amor incondicional é o que me impede de o por a dormir na garagem, onde poderia gritar a noite toda e não era ouvido! :P
Muda tudo, quando eles nascem. Muda tudo! Móveis incluídos, a vida, a maneira de olhar para o mundo, e o lugar do coração. Ficamos assim, totalmente rendidas. Eu tive quatro, e cabem todos!
Arnaldo
A criança nasceu, chorei baba e ranho de tanta felicidade e muito medo ao mesmo tempo! O amor é incondicional, mas às vezes não é. Não sei como explicar. E há por aí muita mãe que me excomungaria se lesse isto. A criança não era planeada, mas é amada acima de tudo, mas nunca consegui fazer como algumas colegas que se anularam completamente quando tiveram um filho. Tudo o que compram, vêem, fazem, pensam, etc. é em função desse filho. Eu, ao fim de 11 anos, sou mãe às mão-cheias, mas sou acima de tudo eu, até poque a minha filha também é ela própria e, mais dia menos dia, segue a vida dela e eu terei de continuar a saber ser eu sem ela. Mais vale saber sê-lo ainda com ela.
Ana Isabel Gândara
Sim algumas coisas vão mudar temporariamente, pq qd os teus filhos forem maiores de idade vão querer ter o seu espaço e tudo volta à normalidade, voltas a ter uma casa só para ti, um escritório cheio de livros sem que ande uma criança de volta deles a rasgá-los ou a riscá-los... e um espaço p o teu gajo jogar à vontade, voltas a poder dormir descansada todas as noites e agora possivelmente terás companhia para ir às compras contigo :))
Pelo menos eu penso assim...não precisas entregá-la para adopção...
bjs
PS: eu tb me ofereço para de vez em qd ficar com a criança, desde que ela seja menos acelerada que a mãe ihhihiih
Do meu grupo de amigos, fui a primeira a casar (e a divorciar também), e já tenho dois filhos.
Nós mudamos. Para melhor.
O quotidiano e o horizonte vistos do lado interior e do lado de quem não tem nada a ver com isso.
Gosto. Parabéns!
Volto cá e recomendo.
Quem ousar dizer o contrário é porque ou não te conhece ou não sabe o que é ser Mãe.