Apesar de naba em diversas áreas da vida, apresentando dificuldades em actividades tão variadas como chegar a sítios sem usar o atalho Badajoz-Covilhã, ir à praia sem guinchar 'Não vou à água que tem ondas. O mar está frio. Não gosto da areia. Está calor. Está a ficar fresco. Tenho fome.' ou evitar a lesão em mobiliário comum a cada 18.3 minutos, Karvela orgulhava-se de ser uma hábil utilizadora de máquinas, computadores e outros pequenos domésticos (não obstante a avaria frequente dos ditos, nomeadamente ao nível da queda), explicando frequentemente a outras pessoas que o play é sempre aquele símbolo e o desligar também e o rewind também e o fast forward também e o rec também. Não foi por isso sem surpresa que se apercebeu que afinal prefere perder-se a caminho de casa do que ser a senhora que no curso de culinária da bimby se queixa que não conseguiu fazer iogurtes, as natas não montaram, as claras babaram, a sopa ficou crua e, perante uma formadora em crescendo de frustração, 'venha cá triturar estes coentros com o ovo para fazer a maionese e veja como é fácil', só de tocar na máquina partiu a lâmina*. Ao mesmo tempo Karvela pensou que se calhar há gente que não foi feita para mexer em máquinas e não valia a pena dizer amiga é só seguir as receitas, se a bimby fosse mais para dummies precisavas de um atestado médico para a comprar naquelas lojas dos velhinhos, juntamente com as cadeiras de subir e descer escadas e os andarilhos e as muletas. À saída Karvela deu com o chapéu de chuva na cara, mordeu a bochecha enquanto comia o resto de sandes porque as porções oferecidas não puxavam a carroça do seu filho quanto mais do corpo crescido para as bermas de uma parideira, não se perdeu porque trabalhou durante anos na zona do curso - não que esse facto se revestisse de particular importância - e, bónus, atropelou um rato do campo à chegada. E ainda assim Karvela sorriu porque enquanto houver livros de instruções e gps, conselheiros do Senhor e aquelas mangueiras de esguicho que tiram restos de rato das jantes, Karvela não perde o pé. Já a senhora que partiu uma bimby tenho para mim que ainda está às voltas na rotunda da makro.
Karvela
* ligeiros exageros à parte, história verdadeira! A lâmina partiu-se quando a mulher se chegou à bimby! No fundo invejo-a porque eis algo que nem eu consigo avariar.
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