A menina Cilinha sentia-se estranha, sentia-se com calor, com frio, com fome. E chorava porque o podengo do Dr. Alberto da farmácia foi atropelado e agora mancava. E ria porque o podengo era objectivamente cómico. Então a menina Cilinha não aguentou e contou ao Dr. Alberto que se calhar, podia ser, não tinha bem a certeza, podia ser uma gravidez inesperada. Pois a menina Cilinha sentara-se num banco de jardim onde minutos antes estivera o Fininho. Fininho de nome mas viril como um láparo que a mulher do Fininho pariu 10 e carregou 12 ou 13, perdeu-lhe a conta. A consternação da menina Cilinha enterneceu o coração magoado do Dr. Alberto, que pensava no podengo de noite e de dia, então como é que ele agora caçava com um podengo coxo? O Dr. Alberto levou-a para uma salinha, nas traseiras, mediu a tensão à menina Cilinha e discretamente telefonou à filha, olha, anda cá buscar a tua amiga que ela acha que está grávida de um banco de jardim. E lá veio a Raquel - ainda morava na rua do Norte - e levou a amiga Cilinha que, 50 anos feitos, só estava a ter um afrontamento.
Comentários
Paula