Stereotyping 101

Quando saí do meu casulo de assalariada precária e me transformei nesta bonita borboleta de bolseira precária a maioria das reacções foi de invejinha (soides umas putas esgaçadas, ide-vos foder). Os mais bem intencionados fizeram votos de boa sorte e alguns ex-doutorandos disseram-me "é a melhor altura da tua vida, aproveita!". Achei um exagero.

Pois que um bolseiro tem tempo. Tem. Pois que um bolseiro responsável tem noção que trabalhar ≠ passear no centro comercial ou combinar cafés. Tem! 

Mas agora descobri o bonito universo dos projectos e das equipas de investigação. Fui convidada para ser membro da, atenção, equipa de investigação de um, pimbas!, projecto. Esse projecto pode vir a ser financiado mas a equipa de investigação ganha, *drumroll*, zero. Incluindo a pessoa responsável pelo projecto, que vai ver, portanto, nenhum euros. E o trabalho é, sim senhoras, muito. 

Na minha cabeça soou "é a melhor altura da tua vida, aproveita". E chorei por todos os almoços que não degluti, todos os cafés que não ingeri. E nestas duas semanas que acabam hoje, enquanto me levantava às 7h da manhã, amaldiçoava a minha vida, gritava KHAAAAAAAN!, mas a incompreensão instalou-se e a verdade é que estou muito mal habituadinha a isto de não ter chefes e prazos largos e horas flexíveis.

Queixo-me só pelo valor da queixinha fácil. Porque ganha-se em currículo. Ganha-se (muitíssimo) em experiência. Ganha-se em contactos. Ganha-se em ego, que ser convidada para fazer parte seja do que for é um reconhecimento. Não sei de quê, mas é.

Contudo, enquanto não trocarem currículos por pães de cabeça estou bem tramada com isto de ser bolseira. É que ajuda à paródia o facto de não poder acumular salários. É bem que o funcionário público que vive cá em casa comece a oferecer broches no pinhal, que eu não tenho saúde para mais cortes salariais.

Karvela 


Comentários

Anónimo disse…
Pobre Kramer. A minha solidariedade.