Agora calem-se que hoje tenho reumático!

É giro ver como as bloggers estão a ficar umas velhas. As que ainda não têm gajo continuam a escrever poesia de vão-de-escada. As que já têm gajo sofrem as agruras da relação, as dores do casamento e publicam as fotos da lua de mel, invariavelmente fabulosa. As que ainda falam de vernizes e roupas ainda não chegaram à fase da maternidade, ainda há guito. As que já chegaram transformam o blog em baby blog. Isto é evolução, nada contra. Tem piada, até.

Agora há a diferença entre serem velhas e serem velhas do Restelo. Se há coisa que me irrita é quando alguém me diz "Na minha altura isto não era assim!". Durante o mês que passou ouvi esta frase uma série de vezes e a minha resposta nunca agrada: "Não sejas velha!"

É que era. Na minha altura era exactamente assim. E, gente que me diz isso, tendo em conta que a minha altura foi a vossa altura, também vocês me acompanhavam nestes comportamentos, se bem me lembro! Ouvi estas três frases, exactamente:

"Estas crianças agora não sabem falar baixo!" - Eu falava alto que me desunhava, sítio onde estivesse era sítio de cagaçal. Quando os putos do Samouco saíam da caminéte ouvia-se um suspiro colectivo de alívio. Eu era uma dessas crianças insuportáveis e alguns dos que me lêem também lá estavam, que eu vi!

"Os putos não têm respeito nenhum!" - Eu punha os pés no assento da frente do autocarro, escrevia nas mesas da escola e às vezes nas paredes. E eu era uma anjinha, só rabiscava pouco e era necessariamente para declarar o meu amor eterno semanal pelo Tozé do 10ºB. Não era rufia de fumar às escondidas mas andei à bulha diversas vezes. E com murros na cara, que a minha marca distintiva era a de não arrancar cabelos nem guinchar; quem me chateasse levava na tromba. À conta desta fama não me chatearam muitas vezes. 

"Na nossa altura comíamos na cantina, não andávamos a comer porcarias no bar." - O meu rico kramer é o primeiro a assumir que sempre que podia comia no bar porque não gostava da comida da cantina. É daquelas verdades universais. Calhou que a minha cantina era mesmo boa, ofereciam-me almoço porque não tinha horário para ir a casa e a companhia era deliciosa. Comer de grátes e galhofar com os amigos. Maravilha. Mas sempre que a comida não me agradava (aka pescada) lá ia eu comer um pão com chouriço e beber uma coca-cola, que era parva mas não tanto! E é o que os putos agora fazem. Se não gostam da comida vão a outro sítio. E é o que os adultos fazem! Quem é que come num sítio que não gosta, tendo opção? Adoro que as minhas amigas agora com 30 e picos achem que os putos devem comer merda só porque sim. 

"As miúdas agora são muito sexuais muito cedo!" - Karvela baixa sobre mim e diz " Filha, só dizes isso porque em 1994 ninguém queria ser sexual contigo..."

Eu aprendi a falar baixo, a ser menos ansiosa, mais zen. Dou respeito para ser respeitada. O veneno que tenho destilo-o normalmente aqui e, como podem ver, até o veneno tem escasseado, que ando feliz que nem um passarinho e isso é muito prejudicial ao Lagostim. A felicidade não dá bons posts, só nos blogs cor-de-rosa e mesmo assim acho que a palavra "bom" não se aplica ao que essas moças escrevem. 

Amizades, a nossa altura é hoje, bidés! É tanto a nossa altura quanto as dos putos do 5º ano ou do meu vizinho reformado. Se a vossa altura foi há 15 anos só posso lamentar.

Karvela 

Comentários

Restelo disse…
clap clap clap
gostei muito de ler.
Mariam disse…
Estou pelos cabelos com blogs de gajas a falar de sapatos Louboutin e malas de 900 euros como se isso fosse a coisa mais normal do mundo (não foste tu que uma vez os comparaste àquele furúnculo que a gente não sossega enquanto não olha para ele, embora o odeie?). Ainda por cima, um desses blogs é escrito por uma pessoa muito próxima de mim, que eu devia respeitar e, com aquele horror de escrita, torna isso cada vez menos possível.

Mais: a avaliar pelo exemplo que eu conheço, quem se dedica a essa escrita acerca de coisa nenhuma é, normalmente, pessoal que não faz a ponta de corno na vida e vive às expensas de alguém ou de alguma coisa. E, pelo menos metade do que lá consta, é inventado, ou copiado de outros blogs de outras desocupadas.
Jubylee disse…
Apenas venho aqui dar um ar de minha graça (ou não), porque achei piada seres do Samouco. Se andaste na escola secundária de alcochete, conheceste concerteza a minha mãezinha, que muitas vezes dava passagem livre aos putos que se "esqueciam" da senha do almoço! hehe E é bem verdade. Os putos continuam muito iguais ao que nós eramos - mas tenho de dizer que hoje a educação é ligeiramente diferente, mais desmazelada. Penso que as coisas estão um pouco hiperbolizadas em relação ao que era antigamente.

Jubylee