Delírios febris

Ainda estou para decidir o que foi que vi, exactamente.

Hoje passeei o Óscar. Decidi sair porque estou um bocado constipada e a temperatura da tarde oferecia ar fresco sem frio debilitante. Depois de uma tarde semi acamada precisei mesmo de ir respirar. E o Óscar sempre sai do seu marasmo balofo. O povo sabe que eu vivo mesmo ao lado de uma base aérea, motivo pelo qual somos testemunha frequente de espectáculos de luz e cor. Sinto falta sincera dos tempos em que era uma base mais activa e em que íamos para a cerca que divide os militares das pessoas normais sentir os aviões a passar a poucas centenas de metros das nossas imberbes moleirinhas. Também foi giro quando tirou anos de vida à minha mãe, no dia de aniversário da minha avó, enquanto ela batia um bolo e um avião caiu a 400 metros da nossa casa. A imagem da minha mãe, de boca aberta e colher de pau a pingar açúcar e ovos, é algo que para sempre fará parte da mitologia familiar.

Pois a tal divisória da base é um sítio calmo para se ir passear animais. Poucos carros, muito campo para a bicheza correr e o passeio é agradável. Há um momento do passeio no qual o Óscar tem tendência para virar à direita. É um sítio de campo aberto cheio de ervas, urtigas, casas semi (des)construídas, poços e sanitas [não perguntem, não saberei responder]. Hoje, mesmo ao virar dessa esquina, dou de caras com uma senhora prateada [*entra música celestial*]. A senhora era prateada porque era uma jovem branca como a cal, óculos de sol, cabelo branco, casaco de penas prateado e calças de fato de treino cinzentas. Olhei demoradamente para ela, até para dizer boa tarde, que eu sou moça para falar a todómundo, apesar do fel. A senhora olhou-me de volta, não me respondeu e o Óscar ignorou-a solenemente. Ia mesmo embora sem pensar duas vezes no assunto quando o Óscar teimou em ficar à sombra de uma árvore e eu voltei para trás. A senhora ali estava, a ler uma folha branca gigantesca, a olhar demoradamente para os carros que passavam do lado de dentro da vedação da base.

Opções: 
1. Se eu estivesse de facto febril e o calendário ditasse os idos de mil nove e dezassete, estava feito: foi aparição. A senhora prateada apareceu e transmitiu-me uma mensagem mental de paz e amor e cuidado com as urtigas que um dia destes o teu cão está a fazer o xixi e pica-se na pilinha. Ou isso ou um ET. Um ET é a opção 1A. Fogo… será que vi um ET? Awesome! 
2. Uma mulher descoroçoada, a ver se o marido estava ou não a sair a horas do trabalho. Na base a hora de parir a galega é às 17h e lá estava ela, camuflada [dentro do género], a ver se o marido passava no carro às 16h com uma matulona militar. 
3. Uma espiona. A peruca, a roupa de mulher-de-branco, a atenção às movimentações, o jornal gigante para se camuflar [dentro do género]. Fica o apelo: se durante a noite isto explodir tudo num frenesim nuclear e a minha lápide ler tristemente "Aqui jaz Karvela. Levou com uma sanita na cabeça", procurem a senhora prateada, que ela tem todas as vossas respostas.

Amanhã tenho mais que fazer mas quarta-feira, à mesma hora, lá estarei. E desta vez mando o Óscar ir fazer as suas fosquices a ver se a senhora fala português ou Glorg219. Esperando sempre que ela não me mate com o seu taser intergaláctico.

Karvela

Comentários

kramer disse…
Ainda antes de ver as tuas opções, pensei numa aparição. Só pode.
Gosto de ver que a quase febre te dá para escrever bons posts. Acho que te vou meter veneno na comida.
Pecadora disse…
HAHAHAHAHA! O que eu gostei do "parir a galega"! Já tinha saudades...
tagouy disse…
amiga esqueceste da opção mulher vinda do futuro a tentar passar despercebida...ou adormeceste baixo de uma árvore e entraste numa de inception e tudo não passou de um sonho ;))
mundoameuspés disse…
Que susto! :P
E no mínimo, é muito estranho!