Tão certo como o Natal ou o telefonema de parabéns, o dia de hoje é o dia em que falo sempre com o Fabricius, seja por que meio for. Isto porque hoje é o melhor dia para casar sem sofrer nenhum desgosto (Barreiros, Q.).
Não há ano em que o Fabricius ou eu (normalmente ele adianta-se mas este ano arrota puta, ganhei-te!) não telefonemos ou enviemos um mail para o outro com a pergunta "Sabes que dia é hoje?". O truque telefónico está na inflexão da voz: já recebi o telefonema entusiasmado, o telefonema irado, o telefonema preocupado, e a minha reacção do outro lado da linha é sempre proporcional ao que me oferecem. E todas as vezes sou apanhada com a frase "É o melhor dia para casar sem sofrer nenhum desgosto", ao que eu tenho que responder "O 31 de Julho porque depois entra a gosto". Pronto, não é normal, especialmente porque há poucos dias o Fabricius saiu dos vintes e já devia ter juízo.
A questão é que todos os anos isto relembra-me o momento espectacular no qual o meu próprio pai teve que me explicar a canção "Mestre de Culinária". Notem que acima não escrevi "entra Agosto" mas sim "entra a gosto", que é de facto o que ele está a dizer. Ou não. Há uns anos, cantava Barreiros, Q. a bonita ode à culinária quando eu, de olhos pregados no infinito e aquele sorriso típico das pessoas um bocadinho idiotas, profiro a frase "... não percebo...". Seguiu-se um diálogo mais ou menos assim:
Karvela-Pai - Não percebes?
Karvela - Não.
Karvela-Pai - Mas como não percebes? Para ver se eu cozinho mais depressa!
Karvela - Então, está certo. Panela de pressão para cozinhar mais depressa.
Karvela-Pai - Não, Clara... não é isso.
Karvela - É a palavra panela?!?!?
Karvela-Pai - Não, Clara.
Karvela - ENTÃO?!?!
Karvela-Pai (muito devagarinho, já a questionar se me deixara cair de cabeça em piquena) - Para. Ver. Seu. Cuzinho. Mais. Depressa. Cuzinho!!!
Karvela - Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Cuzinho!!!!!!!!!!!
Karvela-Pai - Não acredito que não entendias.
Karvela - Não acredito que tiveste que ser tu a explicar!
E pronto, é um momento negro mas não deixa de ser um momento de ligação entre pai e filha. Claro que isto vem do homem que me ensinou a fazer gestos com os dedos enquanto dizia "para o menino e para a menina", alternando corninhos com pilinhas. Aos dois anos.
The apple doesn't fall far from the tree.
Karvela
Comentários
shame on me!!
Ana Isabel Gândara
Um beijinho *