Diminuidos

Hoje o meu pobre kramer está doente. E eu, esposa super fofa, fui cozer-lhe fruta. E digo: "Vou cozer-te a frutinha, agora.". E, sem ele ver para não o perturbar ainda mais, dei balanço a partir do corredor e bati com toda a força nos vidros da marquise, numa tentativa pavloviana de associar cortes profundos em tecido humano ao uso de diminutivos.

Tenho um gravíssimo problema com diminutivos. Esta semana ouvi a seguinte conversa ao telefone:

Moça - Tá bem... ok... sim, fui lá e já resolvi aquilo tudo... e deste-lhe a frutinha? Ó MÃE, SEI LÁ AGORA ISSO... deste-lhe ou não a frutinha? Não percebeste? MUDA DE SÍTIO! Pronto, já me ouves? FOGO! ... Deste-lhe a frutinha?

Não é preciso ser muito inteligente para entender que estavam a falar de uma criança, e é com as crianças que os diminutivos se tornam absolutamente fatais. Exemplo: "A menina está boa?" é excelente para se usar quando uma pessoa não se lembra do nome da filha de uma colega de trabalho. Mas acho maravilhoso quando a própria mãe diz "A menina hoje está doentinha" ou "O menino tem um percentil do camandro" (como não entendo nada disso, só sei da existência da palavra percentil mas não sei muito bem se é bom ou mau, como é que se cura e quantos dedos lá cabem). Sempre admirei nas minhas colegas de trabalho a capacidade inata de chamarem os filhos pelo nome. Uma delas agora teve a terceira filha e no outro dia falava-me da B. para aqui, da B. para ali e só me apeteceu dar-lhe um abraço e até, talvez, lamber-lhe uma face por não cair no erro da "menina" ou da "bebé".

Onde também se torna fatal é nos restaurantes. Aqui há uns anos os Gato Fedorento fizeram um sketch onde mostram o flagelo do "peixinho", do "bifinho" e das "batatinhas fritas". No restaurante do Sr. R., mencionado há uns dias por mim, isto é diário, constante e mais certeiro que um sniper cheio de nervos. "XOR CONTRÁLMIRAAAANTE, HOJE O PRATO DO DIA É UM FRANGUINHO ASSADO COM BATATINHAS E SALADINHA", diz, tonitruante. Ou a sua esposa, para mim, "Querida, prefere perninha ou peitinho?". Prefiro um bolo, que de repente fiquei sem açúcar no sangue.

E o facto de, maternalmente, hoje ter dito ao kramer "frutinha" só significa que irei cair no erro de ser a primeira a mostrar-vos fotografias do menino todo cagadinho com papinha. Apenas para de seguida sentir mentalmente a dor aguda de um vidro na clavícula.

Karvela

Comentários

Mafalda disse…
Quando deres por ti andas de imagem da ecografia em punho e a dizer:

Olhe aqui é o bracinho, olhe o bracinho... aqui, aqui.... isso é a perninha... o bracinho é este, aqui, olhe aqui... nao é fofinho?

:P

Ah e nessa altura também há quem precise muito de faktu... lol
Anónimo disse…
ÉS mesmo uma ternurinha cheia de piadinha :)

o arnaldinho
kramer disse…
A minha a frutinha soube-me bem. Sempre gostei da tua frutinha.
Unknown disse…
Esta questão dos diminuitivos, quase me faz lembrar a triste figura que as pessoas fazem quando falam alto aos estrangeiros como se eles fossem entender dessa forma... uso pouco os diminuitivos com o meu miúdo, mas a verdade é que eles levam-nos a fazer coisas nunca antes esperadas e até repugnadas, como comer uma bolacha maria toda babada! Eu sempre disse que nunca faria isso, sim, sim, vê-se!