Filmes da treta
Tarde de sábado, fui ao engano ver o Apocalypto. Mau. Não me venham com visões do artista: é mau. E digo isto sobretudo porque mais uma vez o Mel Gibson usa a violência extrema, gráfica e realista para ilustrar uma história que poderia ser de honra, sobrevivência e valores familiares. Mas não, é de sangue, sangue, corações a bater fora do peito, caras esfaceladas por felinos em fúria, honra, sobrevivência e valores familiares.
Tarde de sábado, fui ao engano ver o Apocalypto. Mau. Não me venham com visões do artista: é mau. E digo isto sobretudo porque mais uma vez o Mel Gibson usa a violência extrema, gráfica e realista para ilustrar uma história que poderia ser de honra, sobrevivência e valores familiares. Mas não, é de sangue, sangue, corações a bater fora do peito, caras esfaceladas por felinos em fúria, honra, sobrevivência e valores familiares.
A primeira parte enervou-me ao ponto do “tirem-me daqui!” com direito a algumas lágrimas de orgulho porque me tinham dito, aquando da compra do bilhete: “Agora não sejas fraquinha e não saias a meio”. Perante o quase ataque de pânico que estava a sofrer, dizem-me “Vamos embora…” e eu, em fúria sussurrada, disse: “Não, agora ficamos!” “Mas também me está a incomodar…” “Ficamos!”. Tirei o iPod da mala e fechei os olhos.
Cinco minutos depois desse bocadinho que precisei para respirar fundo abri os olhos e lá estava a sequência que realmente gostei: a cidade, os sacrifícios humanos, o jogo de apanha-o-índio, um bocado estilo Jackass. A parte de “gore” que me incomodou menos foi a dos sacrifícios que, tinha ouvido dizer, era muito realista e impressionante. Para mim não foi; aí residia talvez uma das mensagens mais interessantes que ele quis veicular: a cegueira do povo perante líderes idiotas, a ostentação de alguns perante uma multidão de miseráveis, a decadência. Os sacrifícios humanos eram acessórios à história e francamente pouco gráficos.
Depois aquilo torna-se um bocado a-selva-é-minha-eu-faço-o-que-me-dá-na-gana-e-não-é-por-teres-um-piercing-bué-fixe-no-nariz-que-mandas-em-mim-porque-não-mandas-ouviste-toma-vespas.
Visualmente, contudo, devo admitir, é um espanto. As cataratas, os planos filmados de cima, a selva, a cidade. Mas sempre que eu fazia “ahhhhhhhh que bonita a selva…” lá vinha um “nojoooooooo ficou sem um olhoooo!”. Saí do filme a meio, sim, mas para fazer um xixi e, triste, triste, perdi o felino a dar cabo da cara a um gajo. Triste, não sei se já disse.
Na casa de banho estava a filha da Manuela Moura Guedes e assim que acabei o que tinha a fazer fui a correr de volta para a sala, porque se a mãe me aparecesse na fila para mictar eu juro que saía dali a correr e a gritar “Fujam, toda a esperança está perdida!”
Este filme também ganha o prémio da criança mais arrepiante de sempre no cinema. Qual Linda Blair no Exorcista ou o puto do The Ring ou do The Omen… a miúda com peste, meio estrábica, isso sim, é uma pitonisa do mais alto calibre.
À noite vi pela primeira vez o Chocolate. Abre o apetite, mas não passa muito disso. Mas o chocolate como catalisador dos desejos mais profundos das pessoas é uma premissa interessante. Mais interessante do que “Olha, um gajo de uma tribo que não é a nossa. Vou partir-lhe o crânio.”
Karvela
Comentários
Ah - nunca vi o filme, mas o livro "Chocolate" é muito bom ;)
Não tive vontade de sair a meio e gostei muito da forma como está filmado, um filme de acção assim meio documentário. Quanto aos indignas, adorei as roupagens e cores e cabelos e essas coisas todas. Ao fim ao cabo acho que se está a voltar a esse tempo, a avaliar pelas tatuagens e piercings.
Boa observação da criancinha Karvela.
Ao início pensamos "ai coitadinha, tão indefesa e sozinha" para um segundo depois nos arrepiar a penugem da nuca com os sussurros maléficos..."baza!".
Pior só mesmo a do Ring.
mas chocolate é bom (não é o filme, é mesmo o chocolate).
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