Do surgimento de uma alcunha # 2
A Princesa (pronuncia-se “princeisan”)


A Princesa é minha vizinha. Da minha casa vejo a dela, que fica apenas a uns 100 metros. O seu irmão é, como dizem os anglófonos, um “major asshole”, já que durante largos meses nos idos de 95 utilizou um rádio de banda do cidadão para ouvir as conversas telefónicas da vizinhança. A sua inteligência rara fez com que um dia interagisse comigo através do telefone e foi assim que eu e o Fabricius começámos a usar uma linguagem própria em todas as nossas conversas. No fundo, foi esse suave idiota que fez com que agora todo o meu universo seja alcunhado e codificado.

Voltando à Princesa, a sua alcunha surgiu de forma bastante orgânica. Encontrei-a num autocarro, vinha eu das aulas ainda no meu primeiro ano de faculdade. Ela tinha mudado para uma escola profissional porque não se conseguia adaptar ao ensino secundário.

Nota prévia ao diálogo – a Princesa fala com muita calma. Não uma calma de pessoa cool ou de alguém que, ao contrário desta que vos escreve, fale pausadamente de forma natural. Ela fala com uma calma tipo “tenho um ligeiro atraso” ou “esta é a velocidade real dos meus pensamentos”. Lembro-me desta conversa como se se tivesse passado ontem!

Karvela – Olá! Então, estás boa? Como vai a escola?
Princesa – Estou. Vou chumbar a algumas disciplinas…
Karvela – A quais?
Princesa – A Português. A Matemática. A Inglês…. (desfiando todas as disciplinas à excepção de uma).
Karvela – Ah… erm… (conversa de circunstância, blá blá blá…)
Princesa – Agora vou parar de falar, vou pôr os fones para ouvir a minha música preferida.
Karvela – E qual é?
Princesa – É a música da Princesa

Bolas, esta alcunha praticamente escolheu-se a si mesma! A Princesa Diana tinha morrido nesse ano. A música do Elton John conseguia ouvir-se precisamente durante quinze segundos antes de começar a enjoar. E aquela a dizer-me que era a música preferida… claro que fui contar ao Fabricius, a correr. E assim se fez história.

De notar que, perante a ilegalidade do irmão desta pequenina tonta me ouvir os telefonemas, nós apenas pagámos na mesma moeda. Com os walkie-talkies muito artesanais do Fabricius, começámos a ouvir todas as conversas que eles tinham através da banda do cidadão. Divertíamo-nos a descodificar o que eles diziam, porque o pessoal que fala com o CB tem uma linguagem própria e fascinante. A que nos demorou mais tempo a perceber veio, nem mais, da Princesa. Fica o enigma.

Princesa (para o namorado) –
áemeótracinhotêé.

Karvela

Comentários

Arnaldoooooo disse…
A música da princesa é lindo. Tens cá umas amigas :P
Bxana disse…
Essa personagem tem de ser apresentada ao público! Inscreve-a no Canta Por Mim da TVI, por favor!!!:)