All the catholics in the house say ho!

Disclaimer: por muito que esta história pareça embelezada, todos os factos aqui descritos são verdade. Aconteceram mais coisas estranhas nestas duas horas do que em toda a semana. E ninguém ficou mais contente com isso do que eu.

Quando me perguntam porque deixei de ser católica não tenho uma resposta que não seja ofensiva para o meu interlocutor. A resposta prática pôde ser verificada a meio da semana passada. Uma boa amiga coordenou a edição de um livro e, após meses de trabalho, esse livrinho foi lançado. Por solidariedade estive presente, mesmo sendo a entidade responsável uma instituição católica que tem uma denominação social que me poderia levar ao suicídio. É para veres o quanto gosto de ti.

Inconscientemente, vesti-me de preto dos pés à cabeça. As calças já tinha definido na noite anterior, com a ideia “Não vou de ganga a um lançamento de um livro…”; mas de manhã, ainda a dormir, vesti uma t-shirt preta com um decote impróprio para padres com problemas cardíacos e uns all-star pretos porque são impermeáveis. Só quando olhei ao espelho e vi a minha figura é que me lembrei que tinha o lançamento. Mas era tarde demais… se não saísse naqueles dois minutos chegaria irremediavelmente atrasada ao trabalho, por isso, o cérebro dormente decidiu acessorizar. Brincos azuis, pulseira azul, azul e preto fica bem, agarra na mala, vamos embora. Detalhe: a minha mala é um saco vermelho com uma Hello Kitty gigante. Assim, com esta bizarra coordenação de cores que excluía a possibilidade de eu ser uma jovem tristonha e enlutada, exalando um odor desconfortável por ser fim da tarde e estar um tempo impossivelmente húmido, entro na rádio que apoiou o lançamento, e cuja sigla contem um R e um R, e sinto-me uma alien. Especialmente porque era a única pessoa (à excepção da minha amiga) que parecia não ter um pau de vassoura enfiado no cú. Mais estranho ainda foi estar a gatafunhar furiosamente num bloco para jamais me esquecer que a decisão de ser católica foi consciente, ao contrário do decote.

Momentos da noite:

Em pleno sentimento de alien aparece um tipo com uma T-shirt dos Xutos que, vim a descobrir depois, era o técnico de som. Daí a um bocadinho sai da zona dos escritórios um rapaz com cartão de funcionário que exibia a palavra “sicko” bordada no casaco. Os dissidentes estão em todo o lado.

Vi o Sr. António Sala ao vivo. Fiquei como um veado a olhar para os faróis de um camião de 18 rodas. Um camião de 18 rodas com bigode. Apeteceu-me chegar-me a ele e dizer: “Sr. António Sala! Gosto muito de si, é um bom artista…. Onde estão os meus velhos amigos? Como está a Sodona Elizabete Sala?”. Metade do tempo em que estive dentro do local da apresentação do livro, só conseguia pensar no Jogo da Mala, ou no Aleluia. A canção Renascença, canal 1 está no ar, Renascença, é o programa Despertar soava-me nos ouvidos. Lembrei-me da D. Olga Cardoso a descrever que estava de roupão e chinelos a fazer o programa porque vivia no edifício da Renascença. Não lhe pedi um autógrafo e creio que é um arrependimento que terei para o resto da vida.

As estatísticas demonstram que 87% dos livros lançados em Portugal desde 2001 têm o prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa. Este não se inclui nos 13% restantes. Quando ia perguntar à minha amiga se Ele tinha aceite o convite para estar na apresentação, calei-me, porque tive noção que este era o sítio errado para se admirar pessoas com valor académico.

O evento foi de tal importância que foi filmado e, acredito, passará na televisão, num daqueles programas católicos dos domingos na 2:. A minha reputação está irremediavelmente comprometida por a) estar lá; b) o senhor da câmara ter focado a minha cara no exacto segundo em que eu estava a limpar o nariz com o lenço mais idoso e mete-nojo que jamais foi visto em televisão. Tiro o lenço do nariz com muita velocidade, mas não pude deixar de pensar: “Então e agora se está mal limpo? Então e se ele me está a filmar com um macaco gigante, um king kong, um gelatinoso e viscoso muco mesmo ao cantinho da narina? Onde estão os meus velhos amigos?”. Entretanto lá fiz a minha melhor cara de interessada, com o dedinho por baixo do queixo, em assentimento profundo do que se estava a passar na sala, mas sem ouvir uma única palavra.

À saída da rádio, sabendo Deus que eu sou uma herege, e tendo em conta que ali deve haver mais omnipresença que noutras rádios, esse Brincalhão fez-me tropeçar. Mas apenas para dar de caras com o Camané, fadista surpreendentemente baixo, gordo e moreno.

Karvela (Deus, eu sei que não acredito muito em ti – Ti – mas quando o teu filho voltar à Terra, lembra-te que, em última instância, eu sou baptizada. AH! In your face!)

Comentários

Anónimo disse…
li e registei.
A sra. dona karvela para apodrecer nos infernos, rodeada de palhaços de circo e banqueteada com pinhões, espetadas vegetarianas, peixe cozido vinho e a companhia do(a) Cláudio Ramos.
BlueAngel aka LN disse…
O Xor António Sala e a Xô Dona Olga Cardoso... ohhhh que bonito! não viste o "rapaz do gongo dourado"? Isso do autógrafo é realmente um grande falha. Acho que devias auto-flagelar-te por isso. De qualquer forma provaste que és uma boa amiga!:-)
Anónimo disse…
Em suma: uma tarde bem passada, nãaaaaaaao?...
Sempre ouvi dizer que cada um tem o que merece :b
Arnaldoooooo disse…
E eu soube disto tudo logo depois à saída da RR.....