Não magoa a menina, não magoa o bebé!

Agora tenho várias amigas a exercer o seu poder uterino. Recém-nascidos, 2 semanas, 3 meses, ainda grávidas, há para todos os gostos. Os nomes também são variados, desde os clássicos Madalena, Pedro, André e Eduardo até à corajosa Íris, nome que, aliás, me dá vontade de enfiar um garfo no olho de cada vez que me lembro que a criança é minha sobrinha emprestada. Um dia poderei dissertar acerca da falta de vontade de ser mãe e como algumas das minhas amigas olham para mim como se eu fosse um monstro calculista que só pensa no trabalho. Mas hoje preciso desabafar sobre algumas frases que tenho ouvido com muita frequência ultimamente.

Frase 1 – “Quando tens um filho esqueces-te das dores do parto”
No meu limitado entendimento, os partos podem processar-se de duas formas: ou cortam uma gaja como se fosse um porco e tiram, literalmente, de dentro da barriga a criança, tendo que coser a barriga posteriormente; ou a vagina tem que expandir até ao ponto de sair de lá algo do tamanho de uma melancia mas com ombros. Ou eu tenho uma visão muito pouco romântica da vida ou os médicos fazem uma lobotomia grátis com cada parto.

Frase 2 – “A menina está a dormir” ou “O menino comeu e depois arrotou” A criança tem nome. À minha frente, meus amigos, é Madalena, Eduardo, Íris (garfo no olho!).

Frase 3 – “O meu bebé quando nasceu era lindo!”
O teu bebé quando nasceu parecia uma ameixa que esteve 9 meses dentro de água.


... tenho que arranjar amigas novas...

Karvela (abaixo a ditadura do útero!)

Comentários

Anónimo disse…
Filha,
Há opções de vida que não têm de ser convencionais ou imersas num ambiente social tendencioso, neste caso maternalista. O teu tempo, muito possivelmente, ainda não chegou. Assim, e para além do bom gosto toponímico, que amadurece com o passar do tempo, a justapor à criança, assiste-te a possibilidade de usufruir de muitas e boas quecas antes de poderes dizer qual será o cabrito que celebrará contigo o prazer (?) da maternidade.
O teu poder de ilustração das ideias nos diálogos que colocas no blog é tremendo. Neste caso, digno de matadouro ou talho local ao mais elevado expoente. Pergunto-me se neste momento estás a ler Eça para sofreres desta tendência altamente ilustrativa de texto, sobre o que é um parto.. ou não.
Arnaldoooooo disse…
Uma coisa irrita-me quando se fala com crianças...a maneira de falar

"...bi-bó-pum...olha aqui....bebé...bebé...cucucucucuc"

As crianças ficam com ar de parvos e lá acabam por sorrir por PENA e do tipo "Deixa-me ver se despacho este banana para borrar a fralda em paz"

Falem com eles como se eles fossem adultos...falem de literatura...do assassino do Código de D'Vinci....da vitória do prof Cavaco... ou digam a uma criança de 2 anos "Tânia Andreia....diz alcatrão....e agora anticonstitucionalissimamente"

ou se calhar sou apenas eu que penso assim...eu no meu pequeno mundo
Anónimo disse…
Ora, acerca das belíssimas frases escolhidas, apraz-me tecer os seguintes comentários ( e atenção que os comentários partem de uma mãe de um TIAGO de 4 anos e futura mãe de um HENRIQUE ):
1º Quem foi a alma que te disse que se esqueceu das dores do parto?... É que eu não me esqueci; aliás, todos os dias desde que engravidei outra vez que penso nelas de manhã à noite! Claro que dói, e não é só na altura: aquilo prolonga-se para mais de uma semana!!! E quando vêmos o nosso baby A DOR NÃO PASSA (um bebé é um bebé, morfina será sempre morfina e não me parece que sejam parecidos...), simplesmente torna-se mais suportável. Ou seja, ao olhares e ao poderes finalmente tocar e falar "eye to eye" com o teu grande feito, parecem-te as dores do parto(ou pareceram-me a mim) um sacrifício que valeu a pena fazer, só para teres ali naquele momento e para sempre alguém que NUNCA se esquecerá de ti enquanto viver, e por quem tu nutres um amor incondicional, quando já pensavas não ser possível amar assim tanto alguém... ;)
2º Pronto, tenho de admitir que assaz frequentemente trato o meu filho por outros nomes que não o dele, tipo PIU, ou ERVILHA, às vezes TOUPEIRA ou mesmo AMENDOIM SALTITANTE... E sim, quando telefono para saber dele, tenho uma tendência horrorosa (concordo, Karvela) de perguntar "então o menino?"... portanto, olha, aqui não me safo: I plea guilty!
3º O meu bebé quando nasceu ERA lindo. Ao contrário do normal (vermelho e enrugado), o Tiago nasceu branquinho e lisinho, e tenho fotografias que comprovam. Tinha os olhos um bocado inchaditos, mas fora isso era perfeitinho. E mesmo que seja delírio de mãe e que ele na verdade fosse horrível, olha: quem ama o feio, bonito lhe parece, portanto acho esse um comentário injusto. É claro que para qualquer mãe, depois de todo aquele sofrimento e esforço, o seu petit fils é o mai lindo da terra e arredores!
E agora, last but not least, um comentário ao comentário aí deixado pelo VVIVO, e reza assim: NUNCA NA MINHA VIDA FALEI AO MEU FILHO NESSES TERMOS, mas sei que há quem o faça, e, sinceramente, também me repugna um bocado. Sempre falei com o meu filho ( e este sempre é desde o minuto em que nasceu, e já antes, até ) como se de um adulto se tratasse (claro que com as devidas adaptações), e não acho que ele tenha perdido nada por nunca ter ouvido essas baboseiras... Aliás, o meu filho, aos 3 anos explicava-te em que é que consistia a lei da gravidade, e, além de falar de forma bastante desenvolta para a idade, revela ainda personalidade: por exemplo, no primeiro dia em que foi para o Colégio como o ÚNICO menino "caixa de óculos" lá do sítio, regressou ao fim da tarde e disse-me "Mãe, o HUgo disse que os meus óculos eram feios" e eu a pensar "pronto, merda, nunca mais os põe!", ao que ele me interrompe com o seguinte comentário "e eu disse-lhe logo que não eram feios nada: ele é que era um parolo!". Toma lá que já almoçaste!...
Por fim, querida Karvela... Ser mãe é uma opção, não uma obrigação. Se o meu primeiro ursito não tivesse surgido como surgiu (tipo: "surpresa!") provavelmente até hoje eu não teria tido filhos, mas o facto é que surgiu, e eu adorei... e como não quero que ele seja um lone ranger providenciei logo outro para lhe fazer companhia, e por aqui me fico (acho que 25 anos e 2 filhos é uma boa média). Mas o que eu quero dizer com isto é: não é uma anormalidade não querer ter filhos, assim como não é nenhuma anormalidade querer tê-los. São simplesmente escolhas que nem sempre necessariamente reflectem o tipo de vida que almejamos ter. Interessa sim é manter a jovialidade de espírito e viver a vida da forma como ela se nos apresentar: há que não nos conformarmos com o cliché! Eu sou feliz como mãe. Tu serás feliz por o não ser. Interessa é que sejamos plenos, com filhos ou não! ***