MARGEM SUL
(notas para um romance inspirado no Equador, de MST)

Afonso Martim sai do seu T3 às 8 da manhã para apanhar o barco do Montijo. O cheiro do rio lembra uma fossa que, fétida, acumula insectos e doenças inimagináveis.

(Repetir a cada dois parágrafos a questão do cheiro e dos mosquitos utilizando como variações “lembra um cadáver que acumula vermes”, “recorda-o daquela vez em que caiu dentro de um poço com água estagnada”)

O barco das 8h30 não leva mais do que vinte passageiros. Durante a viagem relembra o cargo que lhez foi incumbido e pensa se conseguirá dar conta do recado.

(Relembrar constantemente que ele é um bocado inútil e, por isso mesmo, está votado ao fracasso. O mais certo é morrer no fim)

Chega ao trabalho e diz à menina Júlia: “Hoje está uma caloraça que não se pode!”. A menina Júlia sorri, o seu seio saliente e farto treme, talvez de excitação, talvez porque é tão estúpida que ainda se está a rir da piada que o senhor Administrador disse há uma hora atrás, quando entrou.

(Referenciar, a cada três páginas, um aspecto voluptuoso do corpo feminino, para o livro não ser só acerca de um gajo que não interessa à mãezinha dele!)

Afonso Martim vai para a reunião, onde um grupo de colegas disserta acerca de políticas que não lhe interessam muito. Afonso Martim pensa mais nas condições de vida dos empregados da limpeza. Será que se alimentam bem?

(A filantropia tem que estar presente. Mesmo que ele não mexa uma palha para ajudar alguém. Repetir as preocupações do Afonso a cada cinco parágrafos)

As suas próprias ideias perturbam-no tanto que Afonso Martim, de cabeça nas nuvens, sai para a rua distraído e é atropelado pelo 28, atrapalhando o fim de tarde das 480 pessoas que seguiam confortavelmente dentro do autocarro.

(O protagonista tem que morrer no fim para dar o tom intelectual. Relembrar o cheiro fétido de qualquer coisa, o seio farto de alguém e os empregados de limpeza que foram todos ao funeral)

E pronto, copy paste, copy paste, 400 páginas sobre a vida de um chato. Imprimir a cara do MST na contracapa. Best seller.


Karvela (que até está a gostar do livro...)

Comentários

Anónimo disse…
É mais ou menos esse o espírito da coisa. Mas escuso-me a mais comentários enquanto a leitura não estiver terminada.
Anónimo disse…
Nem a Ana Bola, perdão, Pureza Teixeira da Cunha, no seu "Absolutamente Tias" faria mellhor, no capítulo dedicado a esse animal em grande reprodução que é a "Tia Escritora".
Filha, tás lá. Acredito que o MST deveria dedicar-se à agricultura no Ribatejo, porque assim teria umas golegãs a visitar, uns Bernardos Simões a protagonizar a campinagem e umas festaças giríssimas de fins de semana na lezíria que fariam uma vistaça nas revistas do coração.
E tu ainda dizes que até estás a gostar? P'la tua saúde. Mas faz-nos um favor, passa ao próximo capítulo da tua novela do Montijo. Amei.